terça-feira, 15 de setembro de 2009

Abstract Bitch

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Ela gosta de cruzar as pernas quando você passa, sobe um pouco a saia e te ensina no final de suas apostas. É uma mulher que vive nos hipódromos para roubar a sorte de homens que esperam por trás das arquibancadas. A ela não lhe cabe os sinais do trafego, nem os potes de conserva que estão de oferta na semana, ela não gosta de comprar, não gosta de roubar, nem pedir emprestado. Ela gosta de deslizar-se e deixar que os demais lhe ofereçam alternativas.

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quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Cores em greve

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Um mundo em preto e branco. De certa forma parece aproximar-se mais da realidade do que um mundo à cores, afinal, um mundo colorido parece não ser muito real, parece ser algo que não tem problemas ou seriedade. Colocar "preto no branco" significa trazer alguma coisa para a realidade, porque uma foto colorida pode ter como principal atração as próprias cores. Uma foto em preto-branco parece extrair da realidade o que é sonho, o que é supérfulo e o que é efeito especial. Sobra o extrato da realidade. Os extremos se tocam, e se um extremo é branco o outro é preto. Essa mistura de luz e sombra combina tanto que se separados, preto e branco parecem atrair mais preconceitos que conceitos. O preto carrega uma carga de negatividade, o branco funciona como uma garantia antecipada de boas intenções.


A realidade profunda das coisas, o preto no branco, é muito mais violenta, mais cruel, do que nos é revelada. Na nossa fantasia, ou nos sonhos, andamos fazendo montagens de um mundo colorido. A idéia de ver um mundo menos colorido é que somos manipuladores da realidade, que tentamos desmontar e desvendar um futuro. Há poucas coisas neste mundo que estão verdadeiramente no preto e branco. Entre os dois, você encontrará geralmente um arco-íris inteiro das possibilidades.


Cá entre nós, assim, preto no branco. Os dois são na verdade as melhores molduras para que os limites brilhem em todas as cores do universo.

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segunda-feira, 20 de julho de 2009

Espesso

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Ela esperava um taxi sob as duas da tarde. Alguns pedestres caminhavam depressa, entregados à tarefa de reencontrar-se com seus próprios pensamentos.
Outros estavam sentados na praça, ocupados com tediosas conversas enquanto borboletas brancas voavam aos arredores do parque.
Então ela se deu conta que o tempo estava espesso. O relógio da praça se deteve, os carros pararam, os gestos de converteram em sonhos congelados e as borboletas decoraram o espaço com pintas brancas.
Nesse preciso instante viu a luz verde de um taxi e não pôde levantar a mão.
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domingo, 12 de julho de 2009

Auto-ajuda

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Já diz a palavra, não necessita de livros onde outros te digam o que fazer.
Logo, AUTO-ajuda passa a fazer mais sentido.
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segunda-feira, 29 de junho de 2009

Coisas

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Tem coisas que nascem,
E se viram sozinhas pelo mundo
Empurradas pelo o ritmo do que se sucede
Transpassando vidas e vidas
Em um rumo bem claro
Em rumo preciso, o das sequências.

Tem coisas...
Com força de vida própria,
Além da vida que as projeta
Com a força de sua essência
Força de ser.

Tem coisas...
Que reviram uma história desconhecida
Invariável,
Que agrupa todos os homens e animais
Em uma natureza ancestral
Compondo-se sem distinguir raças,
Sem distinguir culturas, nem bondades, nem maldades;
Coisas que se recriam apenas com estímulos.
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terça-feira, 23 de junho de 2009

Sampa

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Repassando a noite
Correndo caminhos
Perambulando na noite
Desta urbana querida
De gastas calçadas
E animadas esquinas
Os lugares de agora
Com surpresas a cada passo
Adivinho cantos
Desta noite minguante
Atravesso avenidas
Desta cidade que foi minha
De noites sem tempo
Entre luzes e pessoas
Desta cidade por fim querida
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quinta-feira, 28 de maio de 2009

Ao vizinho incontrolável

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Sua consciência tende a ser esse espaço consumido por emoções teoricamente autênticas que, sobretudo, nas noites abstratas de vazíos inalteráveis, propõe uma excitação imprevisível que ao princípio é ilógico, mas para ele é substancial.
Do seu estado mental, uma visão, em baixa velocidade.
Sentindo-se fiel a um tedioso espectro da realidade como se fosse um acontecimento inesquecível.
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segunda-feira, 11 de maio de 2009

Esquinas

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Com o frescor de um irreverente
Em uma noite qualquer
Que aparenta um filme em preto e branco
Como se o passado fosse presente

O gari de longas pernas se perde
Em um breve mas intenso lapso
Cruzando populosas esquinas
Com seu sonho de uma precária farda militar

Ruas e avenidas resgatam quem sabe de onde
Impetuosos corações vespertinos
Impulsionados por efêmeros passos
Entre ilusões e promessas que se perdem pela noite.

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segunda-feira, 27 de abril de 2009

Do outro lado do espelho

****De manhã, na aula de ciências, o professor falava sobre o espaço e a possibilidade de haver vida em outro planeta. Sentado em sua mesa, o menino observava maravilhado o firmamento através da janela. Como todas as crianças, começava a sentir facinação pela ficção-científica e os mistérios do universo. Como eu gostaria que não estivéssemos sozinhos... pensava.
****Foi dormir esperando entrar em contato com seres de outros mundos através dos sonhos. Era um bom momento para isso; naquela época do ano, as três luas iluminavam a noite intensamente.

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segunda-feira, 13 de abril de 2009

O Novato


Ele não sabia no que se tornar, se andar com uma malha justa como o Super-Homem, ou aprender a escalar prédios como o Homem-Aranha ou tornar-se uma fera grande e verde. Não sabia o que era, algo ele era, coisas estranhas aconteceram. Seus novos poderes eram uma válvula de escape da realidade e, de certa forma, uma maneira de manter-se nela.
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Caros amigos leitores;
Desculpem a falta de atualização, ando atarefada com
meu trabalho e faculdade. Mas voltarei a publicar meus textos assim que
possível.
O texto acima foi uma participação minha em um concurso cultural
promovido pelo site Papo de Quadrinho. Meu texto não foi escolhido entre os
finalistas, mas me valeu o exercício. Quem quiser dar uma olhada, segue o site.
A enquete com os textos finalistas estão no canto esquerdo da página.
http://papodequadrinho.blogspot.com/



¡Besitos!

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quinta-feira, 5 de março de 2009

Paisagem inundada

Texto indiciplinado pela inércia da ferida realidade.
Sopra com demência a venda de meus olhos
Não há cúmulo no tempo, que exija procriar as palavras
Que fervem no sangue.
Desesperadas Incógnitas no labirinto incansável do futuro.





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quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Atue

Se esforce
Que essa mão flácida como papel
Se enrrosque,
Se morda,
Se empunhe,
Já que os dias são consequencias dos anteriores,
De um existir.

Se esforce,
Não seja um vento imune
Acariciando os cabelos de sonhadores
O silêncio estúpido atrás de um grito ensandecido
Transforme a estadia apagada em segundos
Em uma encarnação verídica
Essa que te move o cérebro
Ao ser o que esperavas.

Se esforce,
Até que os músculos desfaleçam
E a paz se una com teu orgulho
Até que o sentir se conforme
E perfure seus olhos tão profundamente
Que tua realidade se mute em vida.

Se esforce,
Que não haverá poder alheio nos pensamentos
A convicção é tua arma
E tuas mãos o meio.




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terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Extinção

Já não ficava nenhum pensador, nenhum homem sensível. Só máquinas, mentes artificiais, reescrevendo livros já escritos, reflexões já realizadas, poesías antes amadas. E junto com minha raça se extinguiria a imaginação, a fantasia, esse mágico mundo onírico.
Atrás destas grades escrevo minha última obra, despindo todo meu ser, pois já estou velho e ao que posso escrever, careço do dom de deter o relógio, e em minha enferrujada sabedoria, sei que o tempo me converterá em cinzas.
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terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Renato

Nada melhor do que te descobrir
Na facilidade do seu sorriso
Onde apenas uma palavra
Detém meu mundo

Nada melhor do que me deixar
Derrotar entre suas mãos
Nada mais parecido ao céu
Que saborear a escura luz de seu olhar.



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terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Proteção de dados

Estavam muito preocupados com a privacidade de seus dados, aqueles que podiam render milhões no mercado negro.
Contrataram alguém para que montasse um sistema seguro, com encriptação fractal e com todo tipo de defesas fortes contra uma gama extensiva de ameaças. Tudo para não ter com que se preocupar, para que ninguém toque em seus preciosos bites. Ele instalou o sistema, reforçou seus canais de comunicação e blindou suas valiosas informações. Começou a explicar como
usar o sistema aos responsáveis e os lembrou que apesar da sofisticação dos sistemas, sempre o ponto mais débil é o fator humano. Todos agradeceram seu trabalho com entusiasmo.
Este saiu tranquilamente. Sorrindo, com seu notebook embaixo do braço.
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quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Cromofantasia

A noite invade uma tarde profundamente cromática
O silêncio se filtra em amarelos
Banhando as árvores em sonhos
Há um frescor estranho nas fachadas desta cidade
O céu é ambulante e me desperta
Gira e se renova recordando-me algo.

Tudo vermelho aqui embaixo,
Alaranjado talvez
e elevo o olhar o lilás se apresenta
Um azul se estabelece
Criando um equilíbio físico subestimado
Me maravilho com toda esta fantasia.

E volto a girar entre muros esquisitos
Minha sombra se detém em uma dança
E toda uma era se recompõe
Há um sorriso imenso no mundo
Em um espelho perdido,
Em algum lugar, assim espero.
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segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Mentiras em avalanche



Dizem que a primeira vez é especial e que a receita é simples: trabalhar; até te incentivam dizendo que enobrece o homem. Logo, Deus ajuda quem cedo madruga.
Aprenderás a dizer que culpa não é dela, o problema é você, Explicarás que meninos não choram e que só vai colocar a cabecinha.
Dizem que você é um ótimo funcionário, mas estão cortando custos.
Ao ligar para a administradora do seu cartão de crédito, dizem que não foi possível completar sua chamada.
Logo sua companheira sugere: até que a morte os separe.



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terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Agonizo

Agonizam meus versos, meus beijos, minha boca, minha alma e meus sentidos.
Agoniza meu amor, agregando-me doses, injetanto recordações e alguns momentos vazios.
Agoniza minha rotina, ou se quer saber; meu caminhar e respirar.
Agonizam minhas partes,
Agoniza meu olhar, que as vezes morre entre o horizonte de algum amanhecer e teus beijos na minha nuca.
Agonizo, eu, porque eu sou todo este amor que sempre foi.
Agonizam meus sonhos, minhas vontades, meus toques.
Revivem as manchas e ematomas de cor violeta, assim tão tangíveis.
Agoniza minha pele, meu pescoço, minha voz.
Agonizam os desejos.
Agoniza o ódio.
Revivo e morro.



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terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Antes de ir dormir


O pai tenta convencê-la de que não há montros no armário; e ela o faz crer que compreende, que já é grande. Lhe mostram que atrás das portas não há coisas com dentes nem membranas, que dormirá tranquila sonhando com coisas inocentes que os adultos crêem que as meninas sonham.
Seu pai a cobre e lhe dá um beijo. Ela espera um pouco para se levantar e abrir denovo o armário. Pois é claro que há monstros, e que deve alimentá-los, pois esfomeados poderiam devorar seu pai que não os vê.
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