segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Herança

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Um sorriso se desenhou em seu rosto quando viu que seu bebê recém nascido se parecia com ela. Teria sido terrível ter que dar explicações.
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quarta-feira, 9 de junho de 2010

A Morte está triste

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Contrataram uma consultoria para melhorar o rendimento da Morte, pois os seus métodos eram antigos e fazia tempo que não se renovavam.
Pediram-lhe que trocasse o traje por um terno e gravata e que substituísse a antiga foice por uma discreta maleta repleta de armas, venenos e malignas idéias. Aplicaram protocolos e
procedimentos burocráticos.
A Morte ficou deprimida, sentada em um canto sem poder matar ninguém porque faltava um papel, ou uma permissão, ou por não haver planilhado a tempo. Mas, não se sabe como, um piano caiu encima dos consultores que tomavam conta do processo e ninguém quis substituir-los.
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segunda-feira, 31 de maio de 2010

Engano

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Descobri que tudo era um engano quando acabaram as baterias do meu chefe. A princípio acreditei que estava morto, mas justo entrou alguém da manutenção com quatro baterias novas e as trocou em um instante. O chefe resmungou pela troca tardia e fez o funcionário sair de imediato.
Logo me olhou inquieto, entendi que era por eu ter descoberto.
- Você não sabia? - me perguntou. Nunca suspeitou?
- Não, claro que não. Quem mais sabe que você é um robo?
Me olhou sorrindo, como se minha ignorância o divertisse.
Aproximou-se e me desligou.
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segunda-feira, 3 de maio de 2010

Anjo Travesso

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Derretia-me ao toque de tuas carícias.
Num entorpecimento louco em teus braços.
Meio alucinada me deixava levar.
Contemplando-te, extasiada,
Como se fora um anjo somente meu.

Quanto à você.
A mais bela e prazerosa alucinação,
Fruto de um momento de imensa felicidade.
Anjo travesso que me arrebata a compostura
E que me faz delirar.

Anjo, anjo meu, remanescente em minhas lembranças.
Causando-me devaneios, quando me ponho a sonhar.
Anjo efêmero, encheu-me de prazer,
Que hoje em meus sonhos, ainda me encanta.

Quanto à você, Anjo meu!
Meus sentimentos de puro carinho,
Que eles possam te alcançar.
E com a certeza de que permanecerás em mim.
Em meus sonhos mais privativos,
Eu poderei, onde quer que eu vá, comigo te carregar.
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terça-feira, 27 de abril de 2010

Em silêncio

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Me olha, não sei em que está pensando
Te olho, não posso te dizer o que penso
Você sorri, quer saber o que sinto.
Não sei como, mas te guardo em segredo
Segura minhas mãos, talvez só como um jogo
Mas que aos poucos, me traz conforto
Me abraça, e nisso encontras consolo
Te abraço, queria deter o tempo
Ou para sempre lembrar do aroma de seu corpo
Acaricio teus cabelos, lentamente e em silencio
Enquanto quero roubar um beijo de seus labios entreabertos.
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segunda-feira, 12 de abril de 2010

Busca

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Quando era pequeno, recortou uma foto de uma revista de uma humilde casa de tijolos com as paredes cobertas de flores, em algum lugar não identificado. Por alguma destas compulsões que habitam o espírito humano, dedicou anos buscando aquela casa, procurava pistas que permitissem localizá-la. Percorreu muitos países e mostrava a foto já amarelada para todos que cruzavam seu caminho. Um dia alguém ligou para dizer que havia visto a tal casa. Temeroso de perder o que dava sentido à sua vida, desligou antes que aquela pessoa pudesse dizer sua localização.
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terça-feira, 6 de abril de 2010

Inaplicável

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Mais uma vez vem o sal burlando a razão, a teoria, o que um cético se nega a aceitar.
Se contradiz, se cansa e se enrrosca em um abraço que é a prova irrefutável de que a hipótese é inaplicável.
A teoria foi burlada, mas a indecisão continua impávida, e mesmo que esteja se desfazendo em mil pedaços, continua inteiro, porque isso é o que somos: frações unidas somente pelo sentimento que justifica a respiração e que ao mesmo tempo nos detém.
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segunda-feira, 22 de março de 2010

Cannabis day

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Silêncio em ecos,
Ressoantes e ensurdecedores ecos
Sem idéias, inertes.
Com um olhar ausente,
Que desenha seus sonhos,
Seus passos, sua vida,
Seus sentidos.

Em instantes, faz brilhar a aura
Embaixo do asfalto
Que continua em atrito
De ação e reação,
Já que nos ecos do silêncio,
A calma abunda em seus segundos
Com idéias e armas.
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segunda-feira, 15 de março de 2010

Alguém

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Do carinho que você me devota,
Com meus defeitos que você nem nota
E meus valores que você aumenta.
Desta paz que nos transmitimos,
Neste sentimento que repartimos.

Pelo silêncio que diz quase tudo.
Deste olhar que as vezes me devora
Com meus segredos sempre bem guardados.
Desse calor sem compromisso, inconsequente.
Capaz de me entregar inesperadamente.
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terça-feira, 9 de março de 2010

Dormir

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Pudera eu dormir um pouco,
Escapar do mundo triste e louco
Porque dormir...é como morrer um pouco.

Hoje quero dormir um pouco
E morrer pouco a pouco
Porque dormir...é como morrer um pouco.
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terça-feira, 2 de março de 2010

A mesma anedota

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Perca-se nos meus olhos, em um sono profundo.
Sabemos que no final, em todos os cantos,
Somos a mesma anedota que arranca uma lágrima.
Hoje é hoje, mas nada vai mudar esta mente.
Façamos sombra e silêncio
Passemos inadvertidos ao nosso destino
De espectralidades e insuportáveis momentos insípidos

Te vejo de onde estou, o lugar é o de menos
Te observo à distância, para você sou um espectro
Nem viva, nem morta, insuportável incerteza.
Ninguém te permitiu fazer esse duelo
Te olho e relembro, conheço cada um de seus buracos
Me transformei em uma sombra indescritível
Em uma incomensurável que não pode te esquecer
Por mais que estejam tentando me ensinar aos golpes
O esquecimento é parte da construção da história

Onde ficaram esses sonhos que nos uniram?
Em que momento amor, nos foi impossível manter a luta?
Tenho saudades do seu olhar rebelde, saudades da suavidade dos seus olhos
Tenho saudades da vida que tínhamos nas mãos.
Da vertigem de sentir-nos protagonistas de uma nova história
Que parecia render-se ao nossos pés.

Te vejo e sei que continuas aí, firme
Buscando as verdades deste tremendo genocídio
Por mais que tentem te calar
Por mais que banalizem nossa história
Que já é ferida que nunca termina de fechar
Sei que vai sortear os perigos, que nada poderá te abater,
Por isso te amei tanto.

Sei que apesar do que te rodeia
Desse desamor, de um mundo vazio de utopias
Serás fiel as recordações, fiel as nossas genuinas esperanças
Saberás como chegar ao fundo da verdade.

Lembre-se sempre meu amor,
Que não há detenção
Nem torturas extorcivas
Nem aparições
Que sejam piores que estar morta em vida.
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segunda-feira, 1 de março de 2010

Nostalgia

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De nostalgia minha alma chora.
E viajamos juntas,
Remando em uma lágrima.
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terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Licor

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Não chove em teus olhos
Não queima em teus lábios
Não brilha em teu interior
Deixou de existir
Morreu afogado
Em álcool e naftalina

Mereceria uma estatueta
De barro batido
Porém persiste
Gelado como granito de lápide
Com cheiro de laranja podre
E de janta queimada

Prensado entre restos
De corações recém mastigados
Um se esforça
Outro desiste de cantar
E só um
Pensa em amar

Com um som afogado
As vezes cansado
E outras derrotado
É facil de notar
Está em um canto
Debaixo de um mar
De licor alaranjado
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